A Nova Rota da Seda
- Reylloc
- 29 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de jan.
por Rui Guimarães Junior

Por volta do século II a.C., houve um estreitamento de relações entre comerciantes chineses e compradores de outros países e regiões, como o Império Romano e a Índia. Isso permitiu uma intensa e duradoura troca de mercadorias, conhecimentos, tecnologias e culturas. O caminho percorrido para que essas atividades (que não incluíam apenas o comércio) acontecesse ficou conhecido como a Rota da Seda. As viagens eram longas, o clima e a região inóspitos, os perigos diversos. Por anos, aquelas pessoas percorreram essa vereda que lhes proporcionava vida.
É mais ou menos isso que acontece na comunidade universitária da Região Metropolitana — centenas de alunos das faculdades e universidades localizadas na capital amazonense se deslocam de seus distantes municípios e comunidades de moradia, para adquirir o conhecimento que seus cursos visam transmitir, com destino aos centros de ensino localizados em Manaus.
Muitas dessas pessoas percorrem seus caminhos usando rotas que associações de universitários criaram. Esses entes se organizaram e fizeram compras de ônibus comuns ou especiais para o transporte dos associados através das precárias estradas do Amazonas até alcançar seu objetivo, e retornar, diariamente - assim fazem os acadêmicos residentes nos municípios de Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva — inclusive, eu soube que o pessoal de Figueiredo tem ar-condicionado nos ônibus. Para comunidades e regiões próximas do Rio Negro, como Careiro e Iranduba, o trajeto é menos complicado, por existirem linhas de ônibus públicas. E, também, por causa da vista bonita que ameniza o esforço para percorrer o caminho: de um lado, o encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões; de outro, a Ponte Philippe Daou.
Essas duas espécies de estudantes descritas têm em comum o semblante cansado por conta da rotina, e o uso de anestésicos eletrônicos ou físicos; como fones celulares e livros. Por fim, essas rotas da educação da Grande Manaus refletem as desigualdades do sistema: uns no luxo do ar-condicionado; outros no calor do aperto. Todos com a mesma cara de exaustão e alienados pela rotina. Para cada um, sonhar além dos limites de suas comunidades é fácil — difícil mesmo é pegar o ônibus das 18 horas nesta nova rota da seda.
Sobre o autor: Rui Guimarães Junior é acadêmico em jornalismo no Centro Universitário Fametro
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