A Velha Caixa de Madeira
- Rodrigo Xavier
- 5 de mar.
- 2 min de leitura

Por Rodrigo Xavier
Há uma única forma de vir a este mundo e uma caixa de madeira no fim para cada um de nós.
Seria impossível planejar algo certeiro, mas o marceneiro trabalha todos os dias para um e para outro.
Não culpamos a morte por ela mesma, mas ao visitarmos os jardins.
Daquele fruto, muito desejável, despertou em nosso íntimo a contagem regressiva.
Cada dia é menos um dia, e da árvore veio a caixa onde pousaremos na noite fria e escura.
E no solo como morada prolongada até a ressurreição.
Florestas e mais florestas são e serão derrubadas para encaixotar-nos.
Queimá-la ou reflorestá-la não diminui a bilionária massa mundial.
Incontáveis, contábeis, taxam a vida e a morte apenas para se sustentar.
Ao carpinteiro na cruz vão implorar, mais vida, mais esperança e mais.
A morte é patriota, democrática e constitucional.
Ela ceifa desde o ventre, na tenra infância e na puberdade.
Se morre de tudo, o menu é farto de opções, mesmo na juventude.
Virtude é chegar à maturidade, passar da idade ou dos 30, 60 ou 90.
Há quem morra de medo dela, silenciosa e bela.
Muitos vão enganá-la, talvez por algum antídoto.
Tão criativa e serena, passa boi, passa boiada e as marcas na estrada ficam.
Ao som do berrante anúncio, finda-se a jornada.
Não devemos temê-la se tão friamente ela nos aconchega.
Quanto mais desespero, mais sofrimento.
Quanto mais coragem, menos anseio.
O medo apenas nos faz viver menos felizes.
No Brasil, o marceneiro da morte tem parceiros.
Noite e dia nos recônditos nacionais.
Nos hospitais e nas filas, ela encontra satisfação a curto prazo.
Se não é o tempo inimigo da sorte, a corrupção é sentença voraz.
Eu não temo a morte se ela for minha parceira.
Viverei o tempo necessário para construir meus projetos.
Aos cuidados dos meus e me arrepender de cada erro cometido.
Não temo o breve tempo que dormirei seguro nas suas fronteiras.
Dia e noite desde os tempos de Adão e Eva.
A morte persegue a humanidade.
Sou eu melhor que os meus antepassados?
Do ventre viemos,
ao pó retornaremos, ao invés de choro e tristeza.
Celebremos.
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