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A Velha Caixa de Madeira


A Velha Caixa de Madeira
Foto: Wix

Por Rodrigo Xavier


Há uma única forma de vir a este mundo e uma caixa de madeira no fim para cada um de nós.

Seria impossível planejar algo certeiro, mas o marceneiro trabalha todos os dias para um e para outro.

Não culpamos a morte por ela mesma, mas ao visitarmos os jardins.


Daquele fruto, muito desejável, despertou em nosso íntimo a contagem regressiva.

Cada dia é menos um dia, e da árvore veio a caixa onde pousaremos na noite fria e escura.

E  no solo como morada prolongada até a ressurreição.


Florestas e mais florestas são e serão derrubadas para encaixotar-nos.

Queimá-la ou reflorestá-la não diminui a bilionária massa mundial.

Incontáveis, contábeis, taxam a vida e a morte apenas para se sustentar.


Ao carpinteiro na cruz vão implorar, mais vida, mais esperança e mais.

A morte é patriota, democrática e constitucional.

Ela ceifa desde o ventre, na tenra infância e na puberdade.


Se morre de tudo, o menu é farto de opções, mesmo na juventude.

Virtude é chegar à maturidade, passar da idade ou dos 30, 60 ou 90.

Há quem morra de medo dela, silenciosa e bela.


Muitos vão enganá-la, talvez por algum antídoto.

Tão criativa e serena, passa boi, passa boiada e as marcas na estrada ficam.

Ao som do berrante anúncio, finda-se a jornada. 


Não devemos temê-la se tão friamente ela nos aconchega.

Quanto mais desespero, mais sofrimento. 

Quanto mais coragem, menos anseio. 


O medo apenas nos faz viver menos felizes.

No Brasil, o marceneiro da morte tem parceiros.

Noite e dia nos recônditos nacionais.


Nos hospitais e nas filas, ela encontra satisfação a curto prazo.

Se não é o tempo inimigo da sorte, a corrupção é sentença voraz. 

Eu não temo a morte se ela for minha parceira.


Viverei o tempo necessário para construir meus projetos.

Aos cuidados dos meus e me arrepender de cada erro cometido. 

Não temo o breve tempo que dormirei seguro nas suas fronteiras.


Dia e noite desde os tempos de Adão e Eva.

A morte persegue a humanidade.

Sou eu melhor que os meus antepassados?


Do ventre viemos, 

ao pó retornaremos, ao invés de choro e tristeza.

Celebremos.


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