Uruá-Tapera, mito e lenda original
- Rodrigo Xavier
- 23 de abr.
- 5 min de leitura
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Em uma época não muito distante, no coração da Amazônia, havia um povoado encantado chamado Uruá-Tapera, onde as árvores dançavam ao sabor do vento e os rios sussurravam segredos antigos. Este lugar era abençoado pelo deus da floresta, o Grande Espírito, que havia criado seres sobrenaturais para proteger a natureza e ensinar os humanos a viver em harmonia com o meio ambiente.

A localidade, rica em mistérios e tesouros, era um lar para os uruá-taperenses, que viviam em comunhão com a terra. No entanto, a ganância de alguns começou a devastar a floresta exuberante e a fúria de Deus despertou. Em meio a essa turbulência, um líder destemido e sábio, chamado José, surgiu para proteger a terra e seu povo, lutando contra aqueles que desrespeitavam a vida, suas crenças e a floresta. José era um verdadeiro guerreiro, seguidor do Grande Espírito.

E, como toda história tem seus vilões, surgiu Augusto Trovão, um conspirador astuto e valente, que desejava tomar o poder para si e escravizar os habitantes de Uruá-Tapera. Sua ambição era tão grande que ele não hesitaria em usar qualquer meio para alcançar seus objetivos, mesmo que isso significasse desafiar a vontade do Grande Espírito.
Nesse cenário de tensão e conflitos, um jovem curumim chamado Gustavo tornou-se grande amigo de José. Com olhos curiosos e coração valente, ele narra as aventuras e os sofrimentos de seu povo, sempre atento às manifestações naturais e sobrenaturais que cercavam a batalha entre José e Augusto Trovão.
Muitos anos haviam passado desde a chegada dos invasores brancos na região, a floresta estava em tempestade com as mudanças nas paisagens causadas pela ganância do homem. Até que as forças sobrenaturais despertaram a grande Boiuna. A temida cobra de fogo aparece nas águas turvas do rio, uma cobra grande flamejante com poderes de manipular o tempo e o espaço, e seu silvo ecoa pela floresta como um aviso. Aqueles que desrespeitam a natureza e suas leis enfrentarão consequências terríveis.
Os filhos do Grande Espírito são seres celestiais dotados de sabedoria e poder. Eles descem à Terra para lembrar os humanos da importância de viver em harmonia com a floresta. Eles trazem consigo a magia dos encantos da sereia do rio Cuminá, o mistério do Mapinguari e a capacidade de se transformar em criaturas da floresta, como o Boto e outros seres encantados.
Entretanto, a paixão e a sedução também permeiam essa narrativa, criando uma rede de intrigas e desejos que alimentam os conflitos em Uruá-Tapera. Os espíritos da floresta, sempre vigilantes, abençoam aqueles que respeitam a natureza, mas não hesitam em eliminar qualquer um que ouse se aproximar dos tesouros místicos que o Grande Espírito criou.

É de tarde na imensa selva, o calor do sol se punha sobre Uruá-Tapera, mas a tensão pairava no ar como um manto pesado. Após a aparição da Boiuna e a vitória temporária de José sobre Augusto, trouxe paz ao povoado. No entanto, as sementes do conflito ainda estavam plantadas e a rivalidade entre eles apenas se intensificava.
Augusto Trovão, determinado a recuperar o poder, fez uma aliança inesperada com uma misteriosa feiticeira chamada Iara. Ela possuía o dom de manipular os sentimentos e os desejos das pessoas, e logo começou a espalhar rumores entre os habitantes de Uruá-Tapera, criando desconfiança em relação a José. “Ele é um líder fraco”, sussurrava Iara. “Não protegerá nossas riquezas como merecemos.” A paixão por tesouros e poder começou a consumir alguns e a divisão entre os uruá-taperenses crescia.
Acredita-se que a ganância era maior que a vontade de cultivar a Terra. Homens e mulheres tornaram-se muito prósperos durante o governo de José ao ponto de esbanjarem suas riquezas com joias e coisas preciosas, roupas finamente tecidas e ostentavam de toda pompa, levando-os a acreditar que sua prosperidade era atribuída aos próprios méritos e competências. Muitos enchiam-se de orgulho e vaidade, humilhando os humildes trabalhadores da localidade.

Enquanto isso, Gustavo, o curumim, percebeu as intrigas que se espalhavam como chamas na floresta. Também era um admirador da coragem de José, porém via-se em um dilema. A sua melhor amiga, Lara, filha de um dos apoiadores de Augusto, estava sendo influenciada pelas palavras sedutoras da feiticeira. Gustavo decidiu que precisava agir, mas, como um simples garoto poderia impedir o que parecia ser um destino inevitável?
A tensão culminou em um encontro fatídico na clareira sagrada, onde os espíritos da floresta costumavam se reunir. José, acompanhado de seus fiéis seguidores, confrontou Augusto e Iara.
A floresta nos ensina a viver em união, não em discórdia!”, disse José, e sua voz ecoava entre as árvores.
Augusto, com um sorriso arrogante, respondeu:
“A união é uma ilusão! O verdadeiro poder está na ambição e no controle da fé e do pensamento!”
O confronto se intensificou quando a feiticeira Iara, em um acesso de raiva, lançou magia sobre José e fez com que a grande Boiuna emergisse das profundezas do rio. A cobra de fogo, agora mais poderosa do que nunca, se contorceu em um espetáculo aterrorizante. A clareira iluminou-se com chamas e sombras dançantes, enquanto a disputa entre os dois líderes se tornava uma luta não apenas por poder, mas também pelas almas dos habitantes de Uruá-Tapera.
Gustavo, percebendo a gravidade da situação, teve uma ideia ousada. Ele se aproximou da cobra flamejante, tentando se conectar com a essência do espírito da floresta. Ele disse:
“Boiuna, nós não somos inimigos! A verdadeira força está na união e na proteção de nosso lar!” Ele fechou os olhos, em um gesto de coragem, ofereceu seu coração puro à cobra, esperando que suas intenções fossem compreendidas.
A velha cobra grande, tocada pela bravura do garoto e sua pureza de coração, começou a se acalmar. Suas chamas se tornaram raios de luz, agora ela refletia esperança. Com isso, a força da natureza foi manifestada e as árvores ao redor começaram a sussurrar, levando uma mensagem poderosa a todos os seres vivos naquele instante: a verdadeira riqueza é a harmonia com a floresta entre eles.
Nesse momento, Augusto sentiu-se impressionado com aquela manifestação, porém seu ódio fez ecoar duras palavras contra José. Enquanto a feiticeira buscava a todo custo convencer a Boiuna a destruir o governo de José. A feiticeira, percebendo que sua manipulação não teria sucesso, tentou escapar, entrando nas águas barrentas do rio.

José e Augusto protagonizaram uma batalha corpo a corpo jamais vista naquele instante. Augusto estava em punho com um pedaço de madeira adornado com osso e pontasde pedra capazes de ferir gravemente uma pessoa ou animal. José estava muito mais preparado com seu capacete, escudo, espada e roupas apropriadas para a batalha.
José, percebendo a fúria de Wander e os seguidores dele, estendeu a mão:
“Não precisa ser assim, Augusto. Podemos encontrar um caminho juntos, em vez de nos destruirmos.” A tensão começou a se dissipar, e após um momento de hesitação, Augusto aceitou o gesto de reconciliação.
Assim, Uruá-Tapera começou a curar suas feridas. A paixão por tesouros e poder foi substituída pela paixão pela preservação e pela floresta. Gustavo, agora um verdadeiro herói, tornou-se o contador das histórias de sua terra, narrando as lições aprendidas e a importância da união de seu povo. Contudo, em Juruti Velho, um lugar não muito distante, um fazendeiro ameaça os povos da floresta. Contudo, Mapinguari insurgiu-se contra o fazendeiro e o relato do massacre espalhou-se pelos quatro cantos da Amazônia.
Uruá Tapera, Mito & Lenda original
Por Rodrigo Xavier (1986, atual)
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