Cinquenta e seis anos sem Bandeira
- Reylloc
- 26 de nov. de 2024
- 2 min de leitura

Faleceu em 13 de outubro de 1968, no Rio de Janeiro, o poeta Manuel Bandeira; nascido em Pernambuco, em 1886. Adquiriu tuberculose na juventude e permaneceu com uma saúde frágil que lhe legou uma vida insegura quanto ao futuro. Foi um dos principais nomes da poesia associado à primeira geração que se identificou com a Semana de Arte Moderna ocorrida no Brasil, em 1922; um marco no rompimento com a arte formal até então praticada em nosso país. Produziu uma dezena de livros de prosa e outra de poesia. Sua produção, numa primeira fase, trouxe elementos de tradição do parnasianismo e simbolismo, usando um rigor formal da métrica e da rima. Na segunda fase, tornou-se famoso por observar um estilo simples, despojado, humilde e delicado de falar as coisas; quando se vinculou ao modernismo. Na terceira fase de sua produção literária, incluiu uma retomada de princípios clássicos associada a experimentos classificados como concretismo. Segue uma bela poesia do autor:
“Vou-me embora pra Pasárgada”
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca da Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada [1]
Essa poesia, que bem retrata a obra do autor, é uma metáfora valorizando a busca pela liberdade, assim como o exercício da vida com prazer que Bandeira não conseguiu ter, principalmente em virtude da tuberculose. Eleita como uma cidade imaginária – Pasárgada – é o lugar em que o eu lírico do poeta poderia viver todas as situações prazerosas que a vida real tornou impossível. Um espaço para fugir da realidade, uma idealização. Sua poesia nessa fase é de teor irônico, uma crítica ao romantismo e à arte tradicional. Caracteriza-se pela liberdade de criação, versos livres, linguagem quase coloquial e presença de elementos regionalistas.
[1] Texto extraído do livro “Bandeira a Vida inteira”, Editora Alumbramento – Rio de Janeiro,1986, pág. 90.
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