Dois de Janeiro, por Ritta Haikal*
- Reylloc
- 2 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de jan.

Dia de muito amor e saudade.
Dia de lembranças não apagadas pelo tempo.
Dia de reviver a vida em família, “comandada” por José, meu pai.
Papai, figura emblemática, cuja força era não só nosso guia, como também nosso “freio” quando se fazia necessário.
Meu pai, o “Zé Canarinho”, cuja voz forte enchia as madrugadas, enquanto mamãe enlouquecia à espera dele e eu ao lado dela para não acontecer o pior quando ele chegasse.
Papai, homem do carnaval, dos desfiles na Eduardo Ribeiro com os “Turquinhos”, amigos inseparáveis.
Papai, homem descrente, embora fosse devoto de, Nossa Senhora das Graças.
Papai comandava nossa casa com “mão de ferro” e ninguém ousava ir além.
Papai não gostava de perfume, exceto “Promesa”, que ele adquiria na loja dos “Turquinhos”.
Papai gostava de comer e seu café da manhã, sobretudo aos sábados, era uma orgia gastronômica: ovos quentes, pão, cuscuz, cará, batata-doce, bananas, queijo, requeijão e o que mais houvesse.
Papai, cujo cinturão era temido por Vânia e por mim. Quando o usava, deixava marcas por dias.
Nossos namoros eram compartilhados com papai e mamãe.
Quase impossível dar um beijo…
Papai: caridoso, generoso, justo.
Dava valor a quem o tivesse, porém era implacável com quem o traísse.
Papai ia trabalhar de terno e gravata.
Comprava o tecido nos navios ingleses que aportavam por aqui e onde também adquiria o cálcio SANDOZ, que detestávamos e deixava o paladar bem comprometido, além de bombons maravilhosos.
Ir às festas com papai, no Sheik Clube, era um desafio, porque só dançávamos - quando nos “tiravam” - porque só dançávamos com quem ele simpatizava.
Papai levava-nos, duas vezes por ano ao Rio de Janeiro.
Ficávamos hospedamos na pensão SIXEL, cujo feijão, servido no almoço, era de sabor inesquecível.
Papai não nos deixava sair sozinhas e íamos ao cinema, sobretudo o Avenida, leia-se D. Iaiá, acompanhadas por mamãe ou por nossa prima Carlota.
Deixávamos as duas doidas porque o menos que fazíamos era ver o filme.
Papai deixou muita saudade e, até hoje, sinto falta de suas exigências e de sua bondade.
SAUDADE DO SENHOR, PAPAI.
Choro.
Sua filha Ritta
*Mestra de muitas gerações, ensinando a língua portuguesa.
Commentaires