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SAUDADE DE GENTE E DE VIDA, por Ritta Haikal

Atualizado: 10 de jan.




"Tempo que traz

no seu bojo uma

uma infinita saudade.”


Acordei, hoje, como acontece sempre, chorando.


De saudade de situações importantes e de outras bem triviais,

embora as marcas deixadas na alma e no recôndito de meu ser sejam indeléveis e eu as guarde para sempre.


Saudade de pessoas, cheiros e sabores.


De vida!

Saudade de meu avô Alberto, cuja figura marcante permeou minha vida,

com seus olhos de um azul puríssimo, a calva cabeça, semblante sério,

mas sempre à nossa espera, seus netos,

para dar alguns bombons em forma de ovinho.

Deliciosos!


Saudade do cheiro da castanha de caju assando no fundo do quintal.

Saudade do cheiro da grama cortada em dia de chuva.

Saudade até do cheiro da creolina.


Saudade do espocar dos foguetes nas festas juninas, das fagulhas das fogueiras a brilharem como pirilampos e dos desafios dos Bois Bumbás.


Saudade dos telefonemas dos namorados, justamente na hora em que papai tirava a sesta. Verdadeiro equilíbrio para disfarçar, sem que papai percebesse.


Saudade das aulas de inglês com Miss Jane e com quem aprendi a beber chá com leite condensado, de paladar extravagante, embora delicioso.


Saudade da vovó Sinhá, a quem muito amei e cujo prato preferido era feijão branco com mocotó. Como gostava e como comia… Depois dormíamos e sua alegria e felicidade eram compensadoras. Amei-a muito e guardo lembranças marcantes de sua presença em minha vida.


Saudade, acredite, do ardor dos olhos atingidos por lança-perfume nos desfiles na Eduardo Ribeiro e dos caricatos homens travestidos de mulher.


Saudade do espocar dos foguetes nas festas juninas.

Saudade das manhãs de domingo - quando papai permitia - no Clube Guanabara, outro “ponto de encontro” com o namorado do momento.

Saudade do Rex, pesadão, fiel companheiro da tia Abi.


Saudade das “matinês” nos cinemas Odeon e Avenida,

ponto de encontro de jovens enamorados.

Saudade de Dona Iaiá, com suas placas de “ruge” e a receber a todos,

à porta do cine Avenida com algum comentário sobre o filme.


Saudade, ao final, da Pensão Maranhense, com cuja dona conversava muito,

da loja Marabá, com grande variedade de belos tecidos,

da Esquina da Seda, da loja Colombo e do Siroco.


Saudade de um tempo de feliz simplicidade.


BOM-DIA


RITTA HAIKAL

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